Por: Vaninho Oliveira - Historiador e Cronista Esportivo
No dia 4 de janeiro de 1985, a região do Piriá testemunhou um dos episódios mais emblemáticos da luta pela terra no Pará. Na localidade de Vila Nova, uma tropa de policiais militares, sob o comando do capitão Cordovil, cercou a casa de um colono. O alvo era Quintino da Silva Lira, conhecido como “Gatilheiro”, líder do movimento de resistência dos posseiros na Gleba Cidapar. Esse latifúndio, com vastos hectares, era símbolo de um conflito marcado pela violência e pela disputa entre trabalhadores e interesses de grandes proprietários.
Quintino era um homem conhecido por sua coragem e lealdade à sua classe. Ele nunca agiu contra os posseiros e tampouco foi denunciado por qualquer colono, o que reforça sua reputação como líder comprometido com a justiça e a defesa dos pequenos agricultores. Sua liderança na Gleba Cidapar foi fundamental para organizar a resistência frente às ameaças de expulsão e violência que as famílias enfrentavam. No entanto, sua postura firme o colocou na mira de forças que enxergavam sua luta como um obstáculo ao avanço do latifúndio.
Naquela manhã, Quintino foi encurralado. Apesar de sua história de resistência, não teve chance de reagir. Dois tiros de fuzil pelas costas encerraram sua vida, mas não seu legado. A ação, marcada pela desproporção de forças, é lembrada como um exemplo claro da brutalidade empregada contra os que ousaram se levantar em defesa da terra. A morte de Quintino não foi apenas a eliminação de um indivíduo, mas um recado às centenas de famílias que resistiam na Gleba Cidapar.
O assassinato de Quintino Lira representou um ponto de virada na luta pela reforma agrária na região. Seu nome se tornou símbolo da resistência dos posseiros e do custo que muitos pagaram para defender o direito à terra. No entanto, também escancarou a omissão e, em muitos casos, a conivência do Estado em relação à violência no campo. Passados 40 anos, a memória de Quintino ainda ecoa como um lembrete das lutas não resolvidas e da necessidade de justiça social no Pará.
Ao relembrarmos sua trajetória, não devemos apenas revisitar os fatos de seu assassinato, mas refletir sobre o sistema que perpetuou e, de muitas formas, ainda perpetua as desigualdades na distribuição de terras. Quintino da Silva Lira, “o Gatilheiro”, pode ter tombado naquele janeiro de 1985, mas sua história permanece viva como testemunho de uma luta que segue atual.
DOCUMENTÁRIO: O "GATILHEIRO" A HISTÓRIA DE QUINTINO SILVA LIRA
VIDEO: QUINTINO GATILHEIRO, O ROBIN HOOD DO PARÁ
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Saudações ao Vaninho Oliveira, um excelente comentarista político na TV de Castanhal e esportivo. Valeu garoto!
Um dos poucos jornalistas da época - senão o único - que entrevistou Quintino Lira, foi o meu amigo jornalista e escritor Paulo Roberto Ferreira. Um dos poucos que teve vasto acesso às informações desse Robin Hood - e ele ainda tem muitas.
Eu tinha 17 anos nessa época
Parabéns pela matéria sobre o Quintino.